A influência européia na construção de formas de expressão religiosa brasileiras é perceptível em duas áreas principais: na influência do catolicismo e da magia (“bruxaria”).
A religião católica é, sem dúvida, um dos elementos mais importantes para a compreensão da cultura brasileira. Manipulando a religião para atingir objetivos políticos, o colonizador europeu impunha a prática do catolicismo aos negros e aos índios. Estes, por sua vez, passaram a fazer correspondências entre suas tradições e conceitos católicos, de forma a continuar em contato com suas raízes espirituais sem pôr em risco sua sobrevivência. Os exemplos mais claros desse sincretismo são as identificações de Tupã (para os índios) e Zambi (para os africanos) com “Deus”, e de orixás com santos católicos. Assim, por exemplo, o escravo passou a cultuar orixás através da imagem de santos católicos. O que os colonizadores não sabiam, no entanto, é que dentro ou embaixo dessas imagens os africanos colocavam os otas, pedras que representam os elementos da natureza associados aos orixás. Daí surgiram os termos “culto ao santo” e “povo do santo”. Analisaremos em mais detalhes, em outra parte de nosso estudo, a questão dos orixás na Umbanda. Cabe agora, somente, enfatizar que os orixás representam algo diferente dos santos católicos, e que a confusão entre eles que se faz hoje em dia é um resquício do sincretismo que o africano—e, no início do século XX, o umbandista—fez para não ser perseguido. A influência católica ainda é perceptível na Umbanda contemporânea através do uso do altar e de cerimônias em certas datas, como na sexta-feira santa.
O segundo aspecto da influência européia na formação das tradições religiosas brasileiras se deu através da introdução dos conceitos de magia praticados pelos alquimistas e pelos “bruxos” e “bruxas”. Essas práticas, ao entrar em contato com as tradições dos cultos de nação, passaram a ser utilizadas e manipuladas por espíritos (encarnados ou não) controlados pelo ódio e pela mágoa, com o objetivo de prejudicar os outros, numa tentativa de “vingança” pela repressão sofrida no período da escravatura.
Origina-se, assim, a Quimbanda. Esses trabalhos de magia passaram a ser feitos e desfeitos através da própria Quimbanda, mas a necessidade de espiritualização do Ser fez com que o Plano Maior desse à Umbanda o papel de desfazer trabalhos de manipulação de energia voltados para o mal [5].
Na Umbanda, espíritos cientes dos mecanismos espirituais e energéticos envolvidos na “magia” passaram a trabalhar com a força do Amor, libertando os espíritos sofredores dos efeitos do ódio e direcionando espíritos ignorantes para o caminho de luz, de acordo com a Lei do Livre-Arbítrio. Esse trabalho foi sendo feito, naturalmente, de acordo com a maturidade espiritual dos grupos mediúnicos da época. Inicia-se, assim, uma grande cooperação entre espíritos de uma imensa falange, na luta pela evolução desses grupos mediúnicos. À luz do conhecimento do elevado planejamento desenvolvido por essa egrégora espiritual, entendemos por que os conhecimentos africanos, a bruxaria da Europa antiga e a fé católica imigraram para o Brasil ao mesmo tempo que a colonização. [5] Parte desse processo é ilustrado no livro “Loucura e Obsessão”, de Manuel Philomeno de Miranda (psicografado por Divaldo Pereira Franco).
SCCT.
Axé
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