Sêo Dotô, Sêo Dotô!

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Zé Pelintra chegou.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Terreiros e roças de Candomblé




Juana Elbein dos Santos escreveu que “devido a vários factores, a cultura Nagô – classificada como Yorubá pela etnologia moderna, proveniente do Oeste da Nigéria, centro e sul do Daomé, composta por grupos Òyó, Egbá, Egbado, Ijexá, Sabé e Ketu – influenciou todas as outras, quer seja a Gegê, proveniente de Daomé e cujos traços culturais são semelhantes aos dos Adjá, Fon, Ghuedá e Jegun, quer seja de origem Bantu”.
Foi, sobretudo nos terreiros que se mantiveram vivos os sistemas culturais herdados.

Os Terreiros

Os terreiros são comunidades de vida em que a visão do mundo Africana se mantém presente e viva; em que a reconstrução Familiar – Clã continua a subsistir e em que a vida comunitária revela os traços culturais dos Africanos.
Todos os membros se encontram unidos na mesma fé, protegidos pelos Orixás, submissos a uma autoridade religiosa e espiritual, na qual uma solidariedade económico-religiosa fundamenta a co-responsabilidade do trabalho.
Os membros estão unidos como uma parte num todo, por laços consanguíneos de iniciação e por referências a um mundo acompanhado pelos ancestrais.
A autoridade espiritual e moral é concentrada nas mãos dos “pais” ou “mães de santo”, chamados também de “Babalorixás”ou “Yalorixás”. O nome “mãe” e “pai” significa aqui que os adeptos aceitam uma segunda educação pelas mãos de pessoas significativas nas suas vidas. A educação numa nova vida, após serem iniciados no Candomblé.
Cabe aos chefes do terreiro presidir às cerimónias religiosas, receber os convidados, raspar a cabeça dos iniciados, supervisionar os rituais e apontar os novos iniciados.
A estrutura do Candomblé inclui duas categorias de pessoas: os iniciados propriamente ditos e os titulares, pessoas executivas e honoríficas. Os primeiros percorrem todo o processo formal de iniciação, do aspirante ao supervisor religioso do terreiro.
Há também um grupo ligado à hierarquia do terreiro, mas que não recebe (incorpora) as divindades. São as Equedes, consagradas ao serviço dos santos e atentas às filhas de santo quando estão incorporadas.
O segundo grupo, propriamente dito, é representado pelos “Ogãs”, pessoas que exercem um cargo executivo e honorário no Candomblé. Contribuem para solucionar problemas jurídicos e formam um corpo selecto de prestígio.
Os terreiros gozam de uma certa autonomia, mesmo que haja um relacionamento entre si. A autonomia é fonte de prestígio.
A adesão ao candomblé é um processo complexo, paulatino e que envolve um aprendizado minucioso de códigos religiosos que, é possível dizer, começa na iniciação. Tal aprendizado dá-se no âmbito das relações do grupo do terreiro ou da comunidade do “povo-de-santo”.
É também regulado pelo tempo de iniciação que, situando o iniciado dentro de uma estrutura hierárquica precisa, delimita posições e papéis. Assim, a inserção do indivíduo na comunidade vai sendo feita através da acumulação dos fundamentos religiosos que estabelecem o tipo de relação do indivíduo com seu Orixá e com os demais membros do culto. De uma forma simples, no Post anterior apresentei as principais posições e funções hierárquicas dentro do Terreiro ou Ilê, e abaixo recordo então, em ordem decrescente essa mesma hierarquia.
  1. Yalorixá ou Babalorixá: A palavra Iyà do Yorubá significa mãe, Bàbá significa pai.
  2. Iyaquequerê: Mãe pequena, a segunda sacerdotisa.
  3. Babaquequerê: Pai pequeno, o segundo sacerdote.
  4. Iyalaxé (mulher): Cuida dos objectos do ritual.
  5. Agibonã: A Mãe criadeira, supervisiona e ajuda na iniciação.
  6. Ebômi: Ou Egbomi, são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (o nome significa: meu irmão mais velho).
  7. Iyabassê: (mulher): Responsável pela preparação das comidas-de-santo
  8. Iaô: Filho-de-santo, iniciado, mas não tem um cargo atribuído, participa nos rituais (já incorpora Orixás).
  9. Abiã ou Abian: Novato. É considerado Abiã aquele que entra para a religião após ter passado pelo ritual de Lavagem de Contas e o Bori. Poderá ser iniciado ou não, vai depender do Orixá pedir a sua iniciação.
  10. Axogun: Responsável pelo sacrifício dos animais. (não entram em transe).
  11. Alagbê: Responsável pelos atabaques e pelos toques. (não entram em transe).
  12. Ogâ ou Ogan: Tocadores de atabaques (não entram em transe).
  13. Ajoiê ou Ekedi: Camareira do Orixá (não entram em transe).
Nota: Quando se diz que “não entram em transe”, não quer dizer que essas pessoas não tenham essa capacidade. Apenas que, para o desempenho das suas funções, não o podem fazer.

Axé

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